Crítica: Atlantique (Atlantics) | 2019

Em Dakar, um enorme edifício domina o cenário desértico ao seu redor, se projetando quase que como um efeito-visual. O edifício, chamado de Muejiza Tower é um símbolo de modernidade, construído graças ao esforço e suor dos trabalhadores locais, como Souleiman (Ibrahima Traore), que não recebe seu salário há três meses. Seus chefes pouco se importam com a injustiça da situação e com o fardo imposto sobre as famílias dos trabalhadores, que dependem do dinheiro para sobreviver.
Ada (Mama Sane), considera Souleiman o amor de sua vida, ainda que ela esteja de casamento marcado com Omar (Babacar Sylla), por imposição de sua família. Diop utiliza-se de close-ups extremos para transmitir a afeição entre Ada e Suleiman. Seu foco íntimo captura os gestos repletos de ternura e os olhares apaixonados que nos fazem acreditar na devoção de um pelo outro. Há também uma generosidade de espírito no filme, que procura deixar claro que Omar não é um vilão, mas sim alguém que Ada simplesmente não ama e não suportaria estar casada.
Os encontros entre Ada e Omar são desprovidos de afeição, e são marcados apenas por estranheza, ressentimento e distância. O contraste não tem como ser mais evidente: Omar é um homem de negócios rico e viajado que enche Ada de presentes caros, incluindo uma cama de casal repleta de ornamentos que mais parece algo extraído de um álbum de fotos da família Kardashian. Se Ada se sentisse satisfeita em ser uma “material girl”, ela com certeza teria uma vida bastante confortável ao lado de Omar.
