Victoria Salemi: Até quando?

Na semana passada, não faltaram homenagens e lembranças no Dia Internacional da Mulher para recordar o quanto as mulheres ainda sofrem com o machismo. Pois bem, apenas quatro dias depois, durante a cobertura da partida de estreia do Vasco pela fase de grupos da Libertadores, a repórter Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, foi assediada ao vivo.

Enquanto fazia uma entrada em meio a torcedores cruzmaltinos, Bruna foi beijada na boca (!) por um homem que se achou no direito de fazê-lo. Vamos imaginar uma situação um pouco diferente, só para que se tenha a dimensão do absurdo que isso é.

Pense em um advogado fazendo a defesa de seu cliente durante um julgamento. Em certo ponto, alguém da plateia se levanta, vai até o profissional e o beija nos lábios. Inconcebível, não é? Então por que isso aconteceu com Bruna?

Em primeiro lugar, acredito que algumas pessoas se sintam no direito de fazer o que bem entenderem, principalmente no ambiente do futebol, por saberem que dificilmente isso terá alguma consequência. O rapaz que assediou Bruna dificilmente terá alguma alteração em sua vida. Vai continuar com seu emprego, vai continuar frequentando São Januário como sempre fez e vai continuar desrespeitando as mulheres. É a famosa impunidade.

Outra coisa a que ainda estamos sujeitas, mesmo em 2018, é a ideia de que o futebol é um ambiente masculino. Realmente, no passado era assim mesmo, mas as coisas mudaram e as mulheres estão em toda parte, porque é um direito de qualquer uma! No entanto, parece que nem todo mundo pensa assim.

Outro dia ouvi o relato de uma amiga que gosta de frequentar estádios, contando que é praticamente impossível sentar numa arquibancada sem ouvir os gracejos mais idiotas de homens que acham que ela não deveria estar ali desacompanhada. Muitos deles pensam que os corpos femininos são coisas, que pertencem a eles e que nós não temos autonomia sobre o que pensamos e queremos.

Parece uma coisa de séculos atrás, não é? Mas, ao beijar a repórter que fazia seu trabalho, o rapaz vascaíno agiu em concordância com esse tipo de pensamento. E ele não é o único. Durante o Grenal do último fim de semana, um torcedor colorado disse à jornalista Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha, “sai daqui, p***”. Quando ela começou a filmá-lo e pediu para que ele repetisse o xingamento, foi agredida com um soco.

São casos apenas dos últimos dias e ocorridos com jornalistas. Certamente as torcedoras também passam por situações de discriminação pelo simples fato de ocuparem um espaço de direito delas, por assistirem a um espetáculo do qual, assim como muitos homens, gostam.

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